-OH YEAHHHH!!!!!- quase que grito enquanto sinto uma jarda de coca a entrar me pela narina esquerda; à velocidade de um TGV.
Pois é pá, hoje em dia um gajo precisa de uma ajudinha extra e não há melhor forma de viver a night do que com um cochezinho de coca nas ventas. Tás a ver?
Devo dizer que a merda da coca está bué cara e eu nem sei porque uso palavras como bué e cochezinho porque na verdade eu tenho uma licenciatura em Direito e devia estar a usar expressões como ónus da prova etc e tal.
A pior cena da coca é o ranho, um gajo fica a produzir ranho como um puto alérgico em plena Primavera, mas o preço também é um grande problema.
A noite tá bacana, eu tou todo acelerado e tou mesmo numa de divertir. O primeiro obstáculo é o porteiro, da famosa discoteca que eu costumo frequentar cujo nome não digo mas digo já que começa com uma letra pouco usada em português, tipo o K. O cabrão do porteiro é uma espécie de cão pisteiro que sente o uso de substancias alteradoras do humor, sejam elas alcool, coca, haxe ou coca cola.
Eu abro muito os olhos para que ele possa ver que não tenho nada de errado, para mostrar que estou concentrado, e coloco os braços para baixo, com as mãos abertas, para funcionarem como lastro para me equilibrarem. Não que eu esteja aos tombos, simplesmente apetece me andar mais rápido e quero parecer normal.
- São dez euros - diz me o animal.
Apercebo me que o porteiro tem alto cabedal e enquanto lhe passo para a mão dez euros em moedas de 50 centimos pergunto:
- Andas na musculação? Levantas ferro? Tomas alguma cena? Pareces bué grande?- e fico a olhar para ele a sorrir, enquanto sinto arrepios na espinha que me impelem para a frente e quero abraçar este gajo, dar lhe uma grande palmada nas costas e convidá lo para almoçar comigo. Quero ser padrinho de casamento dele, quero conhecer a família dele. Ah ... meu granda filho da puta.
- Pode entrar - diz me o gorila quando eu disparo as perguntas. "Cuidado a cocaína provoca diarreia verbal" era o que devia dizer nos pacotinhos, mas os cabrões do columbianos estão a lixar se para os clientes.
Adoro esta discoteca, um gajo entra é só gajas, decotadas, penteadas, ensaboadas, enceradas, bem cheirosas de classe média alta.
A primeira coisa que faço é tropeçar no degrau e só não me espalho porque consigo manter o equílibrio num voo de 3 metros e acabo por me agarrar a uma perna enorme e musculada.
- Então pá?- pergunta me um desses betinhos, com um cabelo de puto de 5 anos, que veste sempre um fato para sair à noite.
- Então pá? Vê lá se aprendes a falar como dever ser. Peço desculpa já venho.
Desato a correr para a casa de banho no piso de cima, tranco me num dos cubículos próprios para quem consome cenas. Não acredito que tenha feito isto para o pessoal cagar aqui.
Saio da casa de banho e sinto me o Butch Cassidy e o Sundance Kid, os dois ao mesmo tempo , mas desta vez eles não morrem porque eu sou invencivel.
Observo o espaço à minha volta. Betos, velhos,putas e pré putas.
"Ambrósio apetece me algo"
"Senhor tomei a liberdade de preparar um bom pedaçinho de naco de cona"
"Ambrósio que falta de classe, mas as suas origens humildes são perdoada,pela minha narcótica nobreza, e pelo seu bom gosto".
Dirijo me ao bar.
- Whisky cola!- grito acima da multidão, para o paneleirote que está do outro lado a servir bebidas. Quando me viro choco com uma rapariga e ela sorri para mim. Eu sorrio para ela e viro me de costas...
Eh pá!!!
Viro me de novo e vejo cerca de 7 raparigas naquele espaço e não reconheço nenhuma. Sorrio para uma de cada vez até reconhecer o sorriso daquela que me sorriu. Algumas sorriem mas eu não encontro aquela que me sorriu.
Fim do round 1. Perco aos pontos e regresso ao canto.
"Cus não aguento este combate"
"Tens que largar a coca pá, foi iss que deu cabo do Myke"
"Eu sei pá, mas só mais uma linha para me aguentar, as luzes são fracas e sem ela não vejo nada"
Mando abaixo mais uma linha e sinto me o Hulk. Sinto me um couraçado grande e verde.
- Então pá ?!- toca a sair daí - grita me um gajo do lado de fora da porta.
- Que foi? - pergunto ao deparar com um betinho magricelas.
- Tou à rasca pra cagar meu.- diz ele segurando a barriga, para acentuar a demonstração da vontade de arrear o calhau.
Não acredito...
- Pá isto não serve pra cagar meu.
- Tou me a foder pá - diz ele empurrando me.
Merda do beto, meto lhe um pé à frente e faço com que ele caia numa enorme poça de mijo tóxico.
- Seu filho da .... - não oiço o resto porque saio da casa de banho e regresso à disco propriamente.
Continuo a beber, fumo um maço de tabaco, meto mais umas linhas e já começa tudo a bater com força. Sinto a cara cada vez mais dormente, os lábios estão moribundos e sinto não os conseguir controlar, as minhas palavras ficam imperceptiveis aos outros.
No entanto nestes momentos de decadencia fisica, em que me torno numa massa de carne entorpecida quase que fico iluminado num momento puro de lucidez, como se a mente se sobrepusesse a um corpo fraco.
Mas que raio faço nesta discoteca cheia de gente que não tem a ver comigo? com os seus sorrisos distorcidos e aberrantes, que olham para mim com desdém.
Pessoas com vícios, promíscuas, alcoolicas...bem não sou melhor que eles e como tal deviam me abraçar todos e dizer:
-Tá tudo fixe meu...
Mas não, eu sou o espelho daquilo que eles são. Que se foda vou me embora.
Saio para a rua com as pernas bambas. O ar está gelado e a primeira inspiraçao de monóxido carbono e dióxido de carbono, com um pequeno travo de rio Tejo, fazem com que os meus pulomões se sintam aliviados.
Caminho pela rua em direcção ao carro e oiço putos novos a falarem alto, devido à excitação das primeiras saídas.
-É aquele ali - grita uma voz atrás de mim.
Vejo o beto que eu fiz tropeçar e também vejo os seus 4 amigos. Quatro anormais, desfigurados e embrutecidos do rugby.
Um punho acerta me em cheio na boca e eu caio na calçada.
Cai sobre mim uma chuva de pontapés e murros. Acertam me na boca, na cabeça, no tronco. Tento encolher me para proteger a cara e o tronco, mas um dos betos começa a dar me pontapés na base da espinha para que eu desenrole e consegue.
Tenho o corpo entorpecido e os sentidos embotados por isso nada me dói mas sei que amanhã vou estar todo rebentado.
O s gritos dos putos chamam a atenção dos seguranças da discoteca que quando chegam ao pé de mim ajudam me a levantar.
- Quer chamar uma ambulancia?- pergunta me um deles.
Eu respondo um não arrastado e disforme, enquanto sinto sangue a sujar me a camisa.
Dirijo me para o carro, uma merda de um BMW , conseguido com a merda do ordenado ganho devido ao meu emprego como advogado a defender traficantes de droga e burlões autorizados.
Abro o porta bagagens e tiro aquela cena que serve para mudar os pneus, subo ao capot e começo a bater com toda a força no pára brisas.
- Que se passa aqui?- grita um policia gordo e de bigode - Saia já daí.
- O carro é meu!!!- grito atirando os documentos contra o polícia. Mas quando atiro os documentos sinto os pés escorregarem e caio da capota do carro directamente para o chão.
Oiço o meu pescoço estalar ,fico a olhar para o céu escuro e para o rosto gordo do polícia que me segura mão e diz:
- Está tudo bem meu...
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